Vivemos à margem, nas margens...

Vivemos à margem, nas margens...

Este é o pedaço de território onde queremos partilhar as nossas aventuras ao longo do comprido rio que temos vindo a seguir. Dois olhares diferentes, duas vistas distintas, mas sempre guiadas pelo mesmo farol...

segunda-feira, 5 de março de 2012

Ode Triunfal à Minha Vida

"Ó dolorosa luz artificial desta empresa
Tenho febre e não me convém meter baixa com um contrato de seis meses
R-r-r-r-r-r-ring dos telefones.
Ainda agora são 15h.

Ó Problemas, ó tempo curto!
Forte espasmo retido numa tendinite por passar muito tempo a inserir dados em Excel
Em fúria, picar ponto para sair e entrar.
Tenho os lábios secos, deste ar artificialmente filtrado
E arde-me a cabeça das mudanças de temperatura do sistema central
E do excesso contemporâneo de vós, ó auditorias!

Em febre e olhando para as encomendas em aberto
Grandes trópicos de fornecedores que não são pagos
Canto, e canto no carro, para não ouvir o som dos meus suspiros
Porque o presente é todo um passado mal encaminhado
E há Morangos com Açúcar e Casa dos Segredos dentro das cabeças dos colaboradores
Só porque não têm mais nada para ver há hora de almoço
E pedaços do Telejornal cheio das suas desgraças quasi-fictícias,
Átomos que são manipulados em laboratório para fazer coisas estranhas que não sei explicar
Mas que tento vender com toda a falsa pompa e circunstância
Rindo, sorrindo, saltando,
Fazendo-me um excesso de carícias ao palato de tanto discutir as mesma situações.

Ah, poder exprimir-me todo como as máquinas se exprimem ruidosamente às 8h da matina!
Ser completamente adormecido!
Poder ir na vida tão pouco triunfante como um automóvel em fim de vida comercial!
Poder ao menos alhear-me mentalmente de tudo isto,
Desejar-te toda, sonhar-te completamente, tornar-me saudosa
Do teu perfume e calor e espírito
Dessa tua maneira de ser estupenda, clara, natural e insaciável!

Fraternidade de todos os colegas!
Por partilharmos a mesma miséria
Do ouvir barulhento das máquinas,
Das pressões de ar,
Das máquinas de soldadura,
Do tumulto disciplinado da produção
E do quase-silêncio ciciante e monótomo da corrente de transmissão.

(Ah, como eu desejaria ser alheia disto tudo.)"

A.G.



Pronto, é isto.


P.S.: Sinto um "piqueno" Álvaro de Campos a apoderar-se de mim. 


P.S.S: Não levem a mal qualquer referência a autores/programas/ou qualquer outro elemento de Pop Culture. Não é pessoal.



6 comentários:

Papoila e Orquídea disse...

=) ahah, está 5*!

Já foram ver a expo do Pessoa na Gulbenkian?

Bjo!

A.G. disse...

Ahahaha Obrigada. Estava mesmo a precisar de escrever uma Ode dessas =P
Ainda não fomos, mas queremos muito :) Já forma? E que tal?

Nikkita disse...

:D Opa, eu adorei! Muito bom, mesmo!

A.G. disse...

Olá, Nikkita. :) Tens de experimentar. É libertador ;)

Papoila e Orquídea disse...

Tim! Já fomos! Está muito bem feita. É bom para ir durante a semana, qnd tem pouca gente. Vale a pena =) principalmente a barra histórica, aprendi muito!

A.G. disse...

Papoila e Orquídea, já está apontado! Temos de ir ver! :D