Acrítica #1: Sombras da Escuridão (T.O.: Dark Shadows)

Fantasmas, Vampiros, Bruxas e umas quantas mais criaturas do submundo. Receita para a maior “esparguetada” estilo Twilight do aclamado Tim Burton? Nem perto disso.

Podia ser uma combinação perigosa com o resultado terrível. Mas não foi. Espantam-me os comentários de críticos que se dirigem a Sombras de Escuridão como uma pseudo-comédia, uma aproximação de Tim Burton ao Crepúsculo, um flop. Quem faz estes comentários, parece-me, não conhece a verdadeira natureza de Burton, ou não tem uma mente aberta, ou esqueceu-se do que é o Fantástico.

Hoje, em grande parte resultado dos maus filmes sobre o Fantástico que têm saído nos últimos anos, sempre que um filme aborda este tema é automaticamente catalogado como “Mau”.

Mas, na verdade, existem filmes deste género de muita boa qualidade. E este, considero eu, é um deles.

Vários Elementos que Produzem a Fórmula Másgica:

» O argumento é interessante e inesperado sem ser saturante (digo isto porque filmes como o “Sexto Sentido” são espantosos, mas só os conseguimos ver uma vez – posso dizer que o Dark Shadows já fui ver duas e penso ir três).

» A música é, por si só, uma personagem. Perfeitamente encaixada nos momentos e faz-nos relembrar êxitos únicos dos anos 70. Nos outros momentos é Danny Elfman no seu melhor.

» É uma comédia, daquelas inteligentes e simpáticas que nos fazem sorrir. Não é humor ridículo que nos faz rir às gargalhadas.

» As representações são boas: Johnny Depp muito bem como um vampiro deve ser (tenho sempre medo que ele se repita mas nunca me desilude); Pfeiffer linda como sempre e com um papel muito sólido (gostei muito de a ver); Eva Green surpreendentemente bela e monstruosa como a personagem exige (Não me pareceu, de todo, uma míuda gira e fazer de má. Gostei verdadeiramente da genuídade que ela deu à Angelique); Helena Bonham Carter  num papel discreto mas muito bem capturado.

» Os Cameos e Private Jokes: Essas não vou contar. Vão ver e depois pesquisem ;) Não se vão arrepender.

» A mistura do Fantástico, com a Comédia, com o Drama nas doses certas.

» Cenários lindíssimos.       

 Quando sai um filme com vampiros, ouço dizer (e eu própria já o fiz): Epá, outra vez não. Que treta. Que lamechas. Mas não tem de ser assim. Há muitos anos os filmes sobre vampiros eram tão ou mais frequentes, mas eram histórias sólidas, interessantes e eram criaturas que mutuamente amavamos e odiavamos. Johnny Depp, dirigido por Tim Burton, consegue recriar tudo isto: uma criatura sensual e intelectual que tanto nos atrai como nos repulsa. Queremos ter pena dele e acarinhá-lo mas vivemos sobre o medo constante das atrocidades que ele pode cometer (nomeadamente à nossa Jugular).

A crítica negativa que eu poderia fazer era que sendo um filme baseado numa série dos anos 70, não a segue de todo. De facto, pouco mais do que as personagens são iguais ao original: o desenrolar da história tem muito pouco a ver. Mas será isto negativo? Pegar numa coisa e dar-lhe um novo rumo, sem chamar-lhe um remake não deixa de ser uma adaptação. E de outra forma, não seria um filme de Tim Burton. Burton tira o cheesy da série e dá-lhe uma nova pintura. E isso agrada-me.

Feitas as contas o filmes deu-me a satisfação plena que é rara: entreteu-me mas fez-me pensar. Divertiu-me mas não me ofendeu intelectualmente; ensinou-me um pouco de história mas deixou-me descobri-la sozinha; criou um mundo Fantástico sólido que dá prazer de ver; assustou-me sem me deixar indisposta; entusiasmou-me e entristeceu-me. Tudo com um cuidado estético e com representações dignas de um clássico.

O Festim perfeito de sons, cores e imaginação. Recomendo vivamente! Mas aviso: têm de entrar no cinema com o espírito “nada é disparatado, tudo é possível na nossa Imaginação”.